Confiança e desenvolvimento

Há alguns anos, após terminar meu mestrado na Mackenzie, fui fazer um curso na Babson College, em Boston, uma escola de negócios focada em inovação e empreendedorismo. Minha visão sobre empreender mudou naquele curso e rendeu também um convite para ter o projeto, que ainda era incipiente, a ser apoiado numa incubadora de start-ups. Por lá, acabei ficando sete meses, aprendendo não só sobre negócios, mas sobre a vida em outro país.

Entre a incubadora e a casinha onde fiquei hospedada em Cambridge, havia uma área movimentada, cheia de restaurantes e cafés, por onde circulavam alunos, professores e turistas, indistintamente, próxima ao Charles River. Eu gostava daquele agito, da alegria responsável que pairava no ar, junto com o espírito universitário de uma das cidades mais históricas e cultas dos Estados Unidos. 

Em uma das esquinas mais agitadas, algo em especial me chamou a atenção. Uma longa mesa cheia de livros usados, dispostos com uma certa ordem por assunto. Cada livro tinha uma etiqueta do preço, que variava entre cinco e quinze dólares. Na extremidade da mesa, uma caixa de papelão para se colocar em dinheiro, o valor do livro.

Não havia ninguém cuidando daquela pequena livraria ao ar livre. Mesmo assim, ninguém levava um livro sem pagar e, muito menos mexia no dinheiro que ficava ali, indefeso, até que alguém viesse recolhê-lo ao final do dia. 

A confiança era o valor essencial daquele negócio. Nunca havia visto nada exatamente igual, mesmo que tenha sido criada em um ambiente de honestidade e retidão e frequentado locais onde a conta era anotada numa caderneta e paga no fim do mês. E, interessa pelo assunto, depois descobri que há vários estudos que mostram uma relação direta entre a confiança e o desenvolvimento, seja de um país, de uma empresa , de uma família e de uma sociedade.

Lembrei deste fato recentemente, em uma situação similar. Estive visitando Florianópolis com a família e estacionei o carro alugado na Lagoa da Conceição, próximo ao café onde encontrei um adorável casal de amigos que só conhecia online e com quem estabeleci uma conexão de valores imediata.  Na saída, não havia ninguém para pagar. Mas Seu Jair (não sei se dono ou proprietário do local), deixou um bilhetinho, com o número de seu PIX e o modesto valor de dez reais pelo período. 

Com alegria fiz a transferência, agradecendo, silenciosamente, pelo serviço, mas, principalmente pela confiança. É um jeito de fazer negócios que também é uma filosofia de vida. Eu espero que não apenas o Seu Jair, mas outros tantos empreendedores e seus clientes, possam ter esta visão de confiança Sei que não é viável para todos os empreendimentos, mas é um grande passo na direção de um novo jeito desenvolvimento de negócios, da gestão, da sociedade e da vida.

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