Levei muito tempo para aprender a dizer “não”. E, hoje, madura e consciente, como eu ainda tenho dificuldade com isso. Sofro, procrastino, não durmo, fico pensando em como dizer aquela tão necessária palavrinha. Admiro aqueles executivos objetivos e práticos, cuja firmeza (e frieza) em seus nãos convence qualquer pessoa. Mas não sou assim. Não para tudo, claro, mas para situações delicadas. Falo muitos nãos ao meu filho de 3 anos, que está numa fase que precisa o tempo todo disso.
Muito recentemente precisei tomar uma decisão que envolvia um “não” a uma pessoa que eu queria muito que estivesse em um projeto comigo. Já a acompanhava há algum tempo e achava que ela tinha todo o perfil para fazer o projeto em parceria. Nos reunimos num café delicioso, rimos, divagamos, fizemos planos, acertamos detalhes, nos despedimos com alegria e esperança. Estava tudo certo para começarmos juntas alguns meses depois, mas, por um pequeno detalhe de posicionamento que ia contra tudo aquilo que acredito e prezo, precisei dizer não à parceria. Ah, mas como eu sofri. Não dormia pensando, e fui pedir ajuda a pessoas de confiança para entender se eu não estava sendo injusta ou radical demais , e no fim, pus fim à parceria com um sutil mas direto “não”.
Aprendi com o tempo que há algumas coisas na vida que são inegociáveis para mim: valores, princípios, família. E quando qualquer acontecimento possa ferir estes valores, é preciso ter calma, sabedoria, coragem para dizer não. E, tudo bem. A gente sofre na hora, mas depois passa - tudo passa, como bem dizia nossa mãe. Mas aprendi tudo isso, sem deixar de ter sofrimento, afinal, pelo menos eu, fui criada para ser uma boa menina, e isso de certa forma, pressupunha que eu não fizesse nada de errado, não decepcionasse ninguém, não dissesse nãos...
Também aprendi que o sucesso das nossas escolhas se deve mais aos nãos que dissemos do que aos sims. Porque hoje, a quantidade de oportunidades e ofertas que temos, faz com que queiramos abraçar o mundo: seguir todos os perfis legais que vemos nas redes sociais, ler todos os livros que são necessários ao nosso crescimento pessoal e profissional, responder todas as mensagens que nos chegam, manter nosso networking, trabalhar, ser esposa, mãe, cuidar da casa, da família, dos amigos. Ufa. E nós, onde ficamos? Vamos ter que dizer alguns nãos, caso contrário, não sobra tempo para focar no essencial, naquilo que nos vai nos fazer feliz, que vai nos trazer paz de espírito. Em nós.
Encerramos a parceria numa boa, com muito entendimento do porquê. Ela defendia sua posição, com seus argumentos. Eu, as minhas. Chegamos à conclusão que para as duas não seria uma boa parceria, estaríamos sempre pisando em ovos. Nos despedimos por email, cada qual desejando a outra sucesso em suas escolhas. Sem mágoas. Com respeito. Com gentileza. E seguimos em frente, ainda com muito carinho uma pela outra.

