Valores que voltam

Lembro-me exatamente do que aconteceu há um ano atrás. Tão logo acordei, ouvi um áudio de um médico, conhecido de meu marido, falando que aquele vírus era coisa séria. Estava viajando a trabalho, imediatamente cancelei todos os compromissos, liberei os colaboradores do escritório, apaguei as luzes do apartamento e voltei correndo para casa no primeiro vôo possível. 

Neste tempo que parecia não passar nunca, fui me acomodando dentro de uma nova rotina, adaptando o comportamento no trabalho, os afazeres domésticos, a yoga pelo celular, a educação de meu filho, a distância da família e amigos, entremeados por momentos de muita angústia, ansiedade, medo, mas também, com a possibilidade de fazer um check-up geral da minha jornada. Afinal, o que realmente importa quando percebemos o quão frágil a vida é, diante de um inimigo microscópico e invisível? 

Lentamente, fui vestindo novas vestimentas comportamentais, que de repente - pareciam tão confortáveis como velhas roupas de dormir. Então percebi que, na verdade, elas não eram novas. Sempre me pertenceram, mas tinham ficado guardadas nas gavetas da memória, enquanto as demandas do mundo moderno ocupavam o centro de minhas atenções. 

Há meses a única visita que faço é a casa de meus pais. E de repente percebi o quanto eles ainda são tão importantes para mim, e o quão parecida sou com eles. Tenho o corpo de minha mãe e os olhos de meu pai. Sou determinada como ele e preocupada como ela. E valorizo a família como ambos. 

Subitamente me dei conta que podia cozinhar todos os dias, não apenas nos finais de semana. Aprendi a fazer comidinhas simples, saudáveis e rápidas e fazer disso, um prazer cotidiano cheio de afeto. Almoçar todos os dias em casa, com meu marido e meu filho, impensável há um ano, virou uma cerimônia alegre que começa sempre com o golden circle, um gesto simples de darmos as mãos sorrindo, nossa oração particular de agradecimento.

Dizem que não seremos os mesmos quando tudo isso realmente acabar e a segurança das relações voltar ao normal. Eu realmente acredito nisso. Acho que podemos ser melhores, e muito dependerá da vontade de cada um de nós.

Não serão apenas os novos hábitos higiênicos e modelos de trabalho que irão nos mudar. O retorno aos valores mais elementares, como a simplicidade, a família, a solidariedade, a compaixão, o cuidado e o respeito é que farão a verdadeira mudança. Quem sabe um novo estágio de evolução. Para nós e em nós.

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